Afinal, quais são os serviços essenciais para os museus?
Por Ana Carolina Xavier Avila
As crises, apesar dos desafios que nos impõem, tornam-se profícuas para reflexão sobre o que, de fato, não podemos abrir mão. Em um momento que muito se fala em “serviços essenciais” e quais funções são indispensáveis a cada um dos setores profissionais, surgem as questões: Nos museus, quais de nós não podem parar? Quem precisa estar presente mesmo em situações atípicas, como a que vivemos hoje? Veja bem, aqui, não estamos falando em escalonamento de importância entre as funções; se perguntarmos a profissionais de museus quais serviços são essenciais, sem dúvida, a maioria responderia “todos”, afinal, as práticas museológicas são transdisciplinares e atuam em sinergia.
Na verdade, tais indagações nos remetem à identificação dos profissionais que operam na linha de frete, aqueles que, mesmo em momentos adversos, permanecem em nossas instituições museológicas, zelando pela conservação e segurança dos acervos e espaços. Nesse sentido, nas últimas semanas temos visto a movimentação de equipes e entidades do setor para a concepção de protocolos de segurança, visando à proteção tanto dos profissionais quanto das coleções, considerando que em períodos de isolamento social, redução das equipes de trabalho e diminuição da circulação geral nas ruas ampliam-se, expressivamente, os fatores de risco aos museus. Tais protocolos e planos de gestão de riscos nos evidenciam quem compõe nossa linha de frente, normalmente formada pelas equipes de limpeza, recepcionistas, vigilantes, conservadores, brigadistas, zeladores e demais profissionais de manutenção e infraestrutura. Pensando na capacitação desses profissionais, nasceu a publicação “Segurança e Conservação de Acervos: normas de atuação para vigilantes, serventes e recepcionistas”.
Lançada no final dos anos de 1980 pelo Departamento de Museus e Arquivos (DEMA), subordinado à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, já contando com o apoio dos profissionais pertencentes ao quadro do recém-criado Sistema de Museus do Estado de São Paulo (1986), a publicação traz orientações de trabalho às equipes de base, priorizando instruções quanto à higienização e zeladoria dos espaços museológicos, assim como, princípios norteadores ao trabalho geral de segurança, desempenhado pelos vigilantes.
Inicialmente, o documento aborda, de forma bastante sucinta, os conceitos de museu, patrimônio cultural e acervo. Quanto ao restante de sua estrutura, subdivide-se em três eixos: limpeza do museu, segurança do acervo e, por fim, segurança contra roubo e depredações. Apesar de tocar em questões relativas à limpeza e conservação, torna-se nítida a tônica dada às posturas e procedimentos de segurança, abordando desde as informações básicas que vigilantes e recepcionistas devem oferecer aos visitantes, até procedimentos de vistoria e checagem diárias dos acervos expostos. Além disso, cabe destaque às ilustrações, de autoria de Carlos Alberto Damiano, que exemplificam, de forma bem humorada, os temas aludidos, remetendo o leitor, profissional de museus, a cenas bastante inquietantes do cotidiano.
A publicação, muito enxuta, não toma mais do que 20 minutos do leitor e, por se tratar de texto tão breve, permite o exame de detalhes interessantes, como por exemplo, sua bibliografia, que menciona a apostila do curso “Treinamento para Recepcionistas e Vigilantes”, realizado pela Pinacoteca do Estado no ano de 1986, relembrando de iniciativas pioneiras quanto à devida formação desses profissionais, fundamentais para o desenvolvimento e oferta de serviço qualificado pelos museus.
Embora deva ser observada como um retrato de sua época sobre a forma de comunicação para capacitação dessas equipes, tendo em vista seu texto, um tanto “duro” e, talvez, não tão adequado ao público que se destinava, “Segurança e Conservação de Acervos: normas de atuação para vigilantes, serventes e recepcionistas” ainda nos traz regras atuais sobre o trabalho desses profissionais, procedimentos coerentes e altamente aplicáveis às instituições museológicas de hoje. Por fim, sugere-nos algumas reflexões: em meio à crescente onda de terceirização desses serviços de base, como temos capacitado e valorizado esses profissionais? Considerando se tratar de uma publicação dos anos de 1980, quanto conseguimos avançar nesse tema nos últimos 30 anos? Será que entendemos, de fato, a importância desses profissionais e seus serviços para a permanência e sucesso das ações desempenhadas em nossas instituições museológicas? Vale a pena a leitura. Aproveite!
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